domingo, 31 de janeiro de 2010

"Wayne Westerberg: In the wild.
Christopher McCandless: Just wild!
Wayne Westerberg: Yeah. What are you doing when we're there? Now you're in the wild, what are we doing?
Christopher McCandless: You're just living, man. You're just there, in that moment, in that special place and time. Maybe when I get back, I can write a book about my travels.
Wayne Westerberg: Yeah. Why not?
Christopher McCandless: You know, about getting out of this sick society. Society!
Wayne Westerberg: [coughs] Society! Society!
Christopher McCandless: Society, man! You know, society! Cause, you know what I don't understand? I don't understand why people, why every fucking person is so bad to each other so fucking often. It doesn't make sense to me. Judgment. Control. All that, the whole spectrum. Well, it just...
Wayne Westerberg: What "people" we talking about?
Christopher McCandless: You know, parents, hypocrites, politicians, pricks.
Wayne Westerberg: [taps Chris' head] This is a mistake. It's a mistake to get too deep into all that kind of stuff. Alex, you're a hell of a young guy, a hell of a young guy. But I promise you this. You're a young guy! Can't be juggling blood and fire all the time!"

Muito, muito mais pra dizer e pensar. E eu entendi agora. Entendi...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

cisco no olho do mundo

"O desejo sincero e profundo do coração é sempre realizado; em minha própria vida tenho sempre verificado a certeza disto."

Tem um cisco no olho do Mundo, não tem? Eu sei que deve ser isso. A vista fica toda embassada, daí a gente que dorme e acorda todo dia assim, fica na dureza de achar que é a coisa mais normal de todas. E então feito cabra cega entristecida e emburrecida e enfurecida pelo medo do pretume, esbarra em tudo, em tudo, e ás vezes corta, arranha, quebra costela, veia, cabeça, coração dos outros - e na dureza de achar que tá fazendo a coisa mais normal do mundo. Agora tô aqui pensando bem, por que diaxo que tem que ser assim, e não me cai tão rapidamente nada no pensamento - nem um fiozinho de resposta - pra apaziguar esse barulho remoedor que tá batendo, batendo, tum-tum-tá-tá-tá-tá. Tem uns tempos que a gente se permite estar magoada, daí as pernas ficam tão molinhas, dá uma quentura ruim e uma tontura também, um pouco de raiva, de ansiedade, de medo, de tristeza, de vazio...de que mais? Feito um abandono, um corte seco de alguma coisa boa que resolve ir embora, e vai. E vai bonita, ainda por cima, e deixa um casco meio sujo, meio fosco, quebrado, feitor de delitos. Um casco até maldoso, que bate bastante na clavícula nossa sem muita dó, sem muito bondosiar. E daí o que fica em mim mesmo, é um algo no dentro, que sinceramente parece tempestade, ou bicho cheio de dentes. E morde, morde, morde o dia inteiro. Martela a existência lá em cima, na cabeça, também, o dia inteiro. Se mexe e se remexe, de um lado pro outro, pra gente bambolear ainda mais na frente dos outros, e todo mundo notar. Coisa ruim essa. E tão não compreensível, tão feia, por assim dizer. E ai que culpar não é bem a precisão do momento, não é, não. Isso tudo é o tal do cisco - tenho muito pra mim que é isso mesmo. Um cisquinho pequeno grande atrapalhador. Ele que faz o pessoal ficar e não ficar, usar a língua pra dizer umas coisas e depois também apagar as coisas, com essa mesma língua - que, no caso, oferecerá uns vácuos de vez em quando. O cisco é que faz um sorriso se desabrochar cínico, uma palavra soar grosseira, uma mão ser levantada para um corpo. Uma eternidade de não-respostas ser jogada na platéia ansiosa que é uma pessoa. É o maldito do cisco. E também - também tenho pra mim de jeito forte - que tem outra coisa no meio; também tem a distância. A distância entre nós. Entre eu e você e eles e meus pais e meus amigos, entre eu, eu, e eu e você aí dentro de você, tudo junto num mesmo lugar, sendo possível isso mais vezes - porque ás vezes percebo que é possível de vez em quando. Distância entre você dizer uma coisa e eu ouvir e eu dizer e você ouvir e você chorar e eu querer chorar no seu lugar e isso acontecer com você também. E eu querer saber da sua vida, de verdade, e você querer saber da minha - de verdade. E eu fazer perguntas sobre a sua infância e você responder e também perguntar porque tem muita vontade de conhecer quem eu sou. E passar umas tardes olhando para os pés, e eu poder tirar o sapato pra que durma melhor e ter a certeza de que faria o mesmo, mas nem se quer pensar nisso, porque te fazer mais alegre me torna muito mais alegre ainda. Uma distância maldita mesmo, que deixa todo mundo sozinho em algum lugar que eu não sei, nem você, nem ele, nem nós, nem muito menos as autoridades sabem. Essa mesma que deixa uma pessoa normal olhar para uma triste e não se importar, porque está longe e intocável a qualquer tipo de qualquer coisa que se possa chamar de emoção. A distância de não pegar na mão de ninguém, nem de olhar nos olhos de ninguém, nem de deixar a voz ser gravada no ouvido de ninguém. É um acanhamento isso, isso tudo que eu faço mas que todo mundo - ou quase todo mundo - faz do mesmo jeito. Uma coisa de gente encurralada e amedrontada por algum motivo. Coisa da coisa nossa mesmo: coisa de cachorro arisco, defendendo-se de algo. Ou também coisa de quem nunca teve coisa boa e não sabe como se faz pra fazer coisas boas e bonitas - ainda que o faça meio que exporadicamente do nada. Eu percebi isso. Por que é que você disse "primeira vez que alguém se preocupa com a minha vida..."? E por que é que ficam falando "anjo, anjo, anjo"? Eu sei, tá? Eu sei que vocês gostam e querem isso, isso de querer estar perto, por pura vontade e solidariedade. Ou por puro não-entendimento que é o amor. Ás vezes vocês são feras mansas, mas é porque passou-se um certo tempo pra chegar a isso. E depois, com uma espécie de memória de pomba, esquecem-se da moleza de peito e voltam a ser a estrutura fechada de antes. E é bem nessa parte que dói. Dói pelo jeito que essas coisas são; uma hora atrás, uma beleza, tão tão bonita que só podia ser verdadeira - não seria possível algo que não se é assim por natureza, ser interpretado com tanta maestria. E na outra hora, ou uma capa preta escondendo a cara bela, ou um sumiço - ou derretimento - daquilo lá. Mas agora já tá passando. Já tá passando porque eu sei que isso é assim por enquanto, só. Só até eu e alguns eus a mais do mundo mostrarem que o bom mesmo é não ter memória de pombo, e tentar ir tirando o cisco do olho devagarinho, mas ir tirando - pra não bater em mais ninguém, não ferir, não machucar, sabe? Tá, também sou esfaqueadora, eu sei. Mas com o tempo tô perdendo isso, porque tõ com muita, muita vontade. E ah, não tem problema, não... acho que sou meio cahorro burro e fraco, mas bem fiel ao dono - mais do que deveria - : por mais que espanque e maltrate bastante, nunca vou embora, não. Tenho precisão do'ces, é, tenho mesmo. Mas amor, muito mais. Muito mais...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

papapapapapa used to say to me

Então papai me disse que para conseguir entender o ser humano, a melhor coisa mesmo é se tornar médico. Porque o médico é treinado para isso - para entender o ser humano como ele é. E cuidar dele. E só agora entendo mais profundamente isso... o maior pavor de um médico é perder um paciente, deixar que uma vida vá embora. Ele tem isso nas mãos, e sabe da importância. Está muito próximo do limite que é viver e morrer. Então ele não será irresponsável de pensar que pode errar. Não será cego e maldoso a ponto de achar que, qualquer coisa, é só se desculpar. Já que olhando de longe, uma vida a mais ou a menos, é só uma vida a mais ou a menos, que a gente não sente de perto. Mas estando no centro da história, percebe-se que não é bem assim; a minha vida é tudo o que eu tenho e nada mais, assim como é para todo mundo. Então se eu me agarro a ela, eu me agarro à dos outros, também. Cuidando para que não percam a única coisa que têm.
(deve ser por aí...)

ter cuidado com tudo que é vivo

Que agonia que dá essa falta toda, todo esse descaso e descuido e desencanto e agressão da gente. O que eu e todo mundo procura não é encanto? Eu sei que a gente procura isso. Eu sei que o que queremos é se aquietar e sobreviver de, sei lá, pão e mel e boca e perfume e um canto calmo pra dormir. Mas não sei que que acontece, de repente tudo se arma e vira castelo intransponível, cheio de soldados com fuzis e canhões pra atirar e quebrar tudo - matar qualquer coisa que seja. Matar. Qualquer coisa que seja. Daí não é muito fácil sobreviver mesmo, a qualquer forma de ligação com qualquer pessoa - ou é? Tudo fica muito cansativo, e eu me canso de tentar não cansar, de manter a boa calma de sempre, de segurar os meus demônios. E então fico com um desespero, num buraco bem fundo me perguntando onde é que é a saída. Onde é que é a saída nossa pra tanta falta de vida? Como assim dizendo, é possível de se ver, que a cada coice, o outro fica com mais medo de chegar perto, e se afasta, e vive menos ainda do que podia viver, vê menos, come menos, anda menos. Se acovarda num mundo bem vazio, e escuro também. É tanta falta de vida - essa que digo - que há uns absurdos que acontecem de vez em quando, e daí é bom tentar lutar contra, mais por pensar do que por setir na hora mesmo. É um horror chegar ao abismo de achar bom não estar mais vendo beleza em alguém, só porque, pelo caso de ela resolver soltar a tua mão de novo, e deixar você caindo, caindo, naquele velho precupício, você saber que não quer mais precisar da ajuda dela - ainda que precise - mas o não querer, é a parte mais importante. Horrível isso. Horrível mesmo, e terrível e abominável e cretino e miserável e medíocre e todos os sinônimos pra isso. É que tô mais que convencida que a gente tá aqui nessa bola flutuante azul pra ver beleza, sentir beleza, comungar, cheirar, florescer, tudo junto, e se isso é perdido porque se dá a exaustão do músculo preferido - o coração -, daí, onde é que está mesmo o sentido de estar aqui sem estar dormindo? Fugiu. Sumiu o sentindo, a qualquer estrada que possa existir. Não é nada bom isso, mas ás vezes você se abre e dá um órgão teu e a pessoa aceita. Aceita pra cuidar mal. Pra deixar num pote cheio d'água e de vez em quando pegar na mão pra acariciar por uns minutos. Isso é triste. É disso que falo. É triste, sim. Ninguém quase tem espírito de médico, pra estar ali a hora que for, de cara mergulhada na eternidade; todo mundo é ladrão, quase. É isso que tenho pra mim. E é bem daquele jeito, tem muito ladrão pimposo cheio de charme, e bonito também, com algum traço de bondade como se vê em qualquer coisa no Mundo. Mas ainda assim, é ladrão. Que vai olhar pra você já pensando no que pode tirar pra ele. Daí faz umas artimanhas, vai daqui até ali, e pega algo teu. Suga uma energiazinha, te usa pra aumentar o próprio ego, e quando não estiver muito mais precisado, dá um tapa na cara. Ou fica quieto. Ou então resolve ir embora. Por mais que tenha adquirido um certo amor por você, o mais importante é vencer, seguir ganhando, sendo o maior - para o ladrão. E acho só que estou me tornando realmente magoada com isso... com esse jogo que todo mundo joga. Quero descer. (vai ser melhor ser criança pra sempre, desarmada mesmo e com ajuda grande de alguma coisa pra poder aguentar as consequências disso.)
E tem outra coisa também. Ter uma boca que possa pedir desculpas não é a desculpa para não fazer o possível para não errar. Perdoar é uma coisa, é verdade, a ferida aberta cicatriza - mas a pele não volta a ser como era antes.
E no fim das contas, talvez eu faça tudo errado do mesmo jeito. Coisa ruim. Mas no fim da história mesmo, se é possível encontrar alguma desculpa para esse galho bem torto, é essa: me toquei da precisão de ter cuidado com tudo que é vivo. Então é só isso, tudo que me dão deve ser tratado com grande jeito. E não posso me apoiar na torpe idéia de que, se algo ruim acontecer, é só dizer "sinto muito". Porque não é. As coisas precisam ser levadas com mais importância; tudo no mundo é muito frágil, tudo muito pequeno, inofensivo, perdido. E tudo se quebra e então as cortinas fecham. Só que não temos pra onde ir além do palco. E por algum motivo, tudo vibra pra poder viver porque isso é bom, e pelo visto o gosto e a vontade são o sentido de tudo.
(sem saber como terminar)..
idéia 1: que as pessoas adquiram um espírito mais materno, e de médico.
idéia 2: desarmamento
idéia 3: sem usar ninguém nem nada
idéia 4: perda da necessidade de ser maior
idéia 5: mais proximidade.