segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Silêncio

Ah, como dói o meu pescoço. Você sabe disso? E há tanta gente passando por aqui. É tudo tão mais importante - o sonho, os papéis, os salários, os fins - e eu só acho isso aqui bem melhor: o meio. Você entende isso? Mas teho estado tão cansada, tenho que me sentir forte, lutando, o tempo inteiro. A gente vai se machucar, baixinho é que não se pode falar. E no entanto, continuo. Você entende, meu querido? Se fosse possível, tentaria fazer com que entendesse... então eu vou, antes de perder algo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Longe perto

É um negócio difícil, não é? Mas tá quase lá, não vai se meter no meio dos caminhos e se perder, vai? Sabe bem que tá fazendo isso - esse outro caminho - por puro medo. De quê, fia, exatamente? Parou já pra ver que o tal do céu é grande mesmo? Se lembre daquela coisa que as coisa tua não vai embora não, vai não. O que é pra ficar fica. Pensa nas alegria dos otro, e na tua também, menina. Daí vai longe, vai sim. Se desgarra, se desgarra. A vida nem é tão complicada assim...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nothing is gonna change my world

- Papai, qual que é mais forte, quando arde ou quando dói? Porque a coceira, a cócega, quando arde, quando dói, é tudo dor, mas com intensidades diferentes, não é? Mas qual que é mais forte, quando arde ou quando dói?
- Ah, eu não me lembro, mas acho que é quando dói.
- É, é quando dói né? Como quando tem um hematoma, não é? Porque daí as veias estão todas estouradas...
- É, as veias estão todas estouradas, tá tudo traumatizado...

Num carro rápido, rápido como o vento, o motorista me diz que nada vai acontecer, que não vai me machucar, pede pra eu confiar, diz docemente, e o carro vai rápido, correndo, correndo, correndo. Ele vai correndo, mas eu não pedi pra sair. Ele sabe que talvez não possa cumprir, e eu sei que talvez acabe me ferindo. Mas acreditamos, eu e ele, nisso. Que nada vai acontecer. Nada de ruim. Mas no fim das contas, alguma coisa acontece. A gente bate, numa árvore, em alguma coisa. Não deu pra ver. É que eu já estou a essas horas sem poder perceber nada. Antes senti medo, senti que algo estava errado, senti, senti... mas nunca consigo sair do carro. Alguma coisa estava errada e eu vi. Agora já bateu. Primeiro ardeu tudo, o pânico era quente subindo na cabeça, havia um desespero enorme, queria evitar como pudesse. Mas não estava no controle de carro nenhum - estava sentada ao lado. Indo. Agora, já está doendo. Não tem volta. Já batemos. Já batemos. Não tem volta. Ao menos não há ansiedade - já aconteceu. Já batemos. Mas batemos do meu lado. Eu é que me feri. E o motorista eu não sei pra onde foi...
Tá roxo, tá estourado, mas está tudo bem. Só preciso ficar quieta, está tudo bem. Só não me peça para fazer a mesma viagem de novo. Só não me peça para viver aquilo de novo. Só não me peça para enxergar que a promessa foi quebrada. Não, por favor. Não me peça para ver aquela beleza ser disperdiçada. Por favor.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Deixa, deixa o verão pra mais tarde?

Só de passagem, não me fale assim, fazendo de conta que não está, por perto, de perto, tá é longe, lá no fundo, escorregando na contra-mão, do que a gente combinou. Faz isso não, não? É pra pedir sim, tu sabe que é, mas quero adequar a situação, me aguentar em pé - pois que dentro de mim é furacão que tá a me levar, pra outro, outro lugar. Tem como ser bonzim? Não vou te fazer chorar, se quiser ver, dê atenção ao que tô a falar. Eu digo que se fosse eu criança, de inteiro todo, mais fácil devia de ser, pra entender as coisas, como ficam no minuto que a gente tá.

"Não to muito afim de novidade, fila em banco de bar. Considere toda hostilidade que há da porta pra lá..."

domingo, 19 de setembro de 2010

Bate

Vixe nossa, queria eu escolher a delicadeza, sabe como? Essa coisinha linda aí dentro de ti, eu vi, eu vi sim, e a proteção, sabe bem? Mas tu se assustou comigo, com essa coisinha minha, que eu também tenho. Sei não dosar, sei não. Vai entender de que jeito? Volta não tem mais não, eu entendo. Agora quer que eu desgarre por pegar medo do cê, mesma moeda e tal. Que besteira não? Sendo assim tenho que escolher ficar com a cara hostil, sabe como? Pra assustar mais também, pra furar também, pra aliviar...entende? É isso, é só isso. Mas eu lamento tanto, meu deus. Queria saber o porquê disso, minha nossa. Queria entender de onde que vem isso em mim, queria muito. Acha que ficaria mais fácil de passar o pânico que brota na cabeça? Que deixa as orelhas todas quentes? Acha? Me explica o seguinte, e aquela promessa de não machucar? Disse que não faria isso, meu deus, tu disse sim, eu ouvi com essas mesma orelhas, que estavam frias e calmas e agora estão quentes. Mas por que tá com a faca na mão? Tem como me dizer? Eu num queria desacreditar de todo o resto com uma coisa pequena que acontece, mas isso me ocorre. Que triste que é. Pra recuperar um calorizinho demora de tanto. Pra mim as pessoas somem. Somem. Somem. Abandonam. Todas elas. No fundo. Sabe? Só me sobra aquele olhar de descaso. Não entendo isso, do fundo mesmo, não entendo. A menina ainda aprende a sentir que talvez alguém tenha como amar ela. Juro. Mas na verdade te digo, pra tu mesmo: tenho eu medo do amor.
Tudo bem, respire fundo, é isso mesmo, mas é só aceitar, a gente já tinha combinado isso. Calma, fica calma. Depois passa, passa com certeza. Ache um jeito, não seja refém - lembra que a gente entendeu que isso era torturante? Calma, calma. Sai disso, fala pra alguém, esquece esquece, esquece. Fala pra alguém que vai escutar. Entende? Sai do suspense. Amigo verdadeiro? Tem algum pra falar isso? O problema é todo esse, é todo esse. O mundo interno cheio cheio. Calma, por favor não cai no vazio. E isso que você sente, é normal? Será que é? Será que é normal? Com quem vai falar, com quem? E agora, como vai fazer? Pelo amor de Deus, pede pra alguém te ajudar. Lembra das coisas com carinho, talvez? Sim, por favor. Não entra em pânico. E esse traço compulssivo? Será que ninguém percebe? Com que você será obrigada a ficar? Com o que você será obrigada a ficar?

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Quem vai correr, quem vai ficar?

E se a palavra não condiz com o que parece? Porque eu sinto que, na verdade, pode ser que as coisas não sejam bem assim? Cá da Terra eu me pergunto, meu Deus, onde fui que aprendi ter medo assim? Foi lá fora mesmo, foi no mundo feio mesmo, ou foi mais dentro? Faz favor, senhor, de me retornar o recado. E se num acaso, eu estiver no fim, juntando os pedaços, duma arte que parecia certa, mas que não era? Quanto espinho me sinto por dentro, coisa demonienta, ou coisa que é necessária, pra entrar no mar, chegar na vida, pra ser inteira? Ah, que raio que toda lembrança vem, vem pra perto dos olhos, me faz confusa tempo todo. Eu só quero pedir que no final da batalha a gente possa ser amigo, eu e quem luta comigo. A raiva vai passando devagarinho. Quando ouço voz eu me animo, eu me encanto.

Sabe que ninguém nunca fez algo cruel achando que fazia algo errado? Seria mais fácil pensar que era por maldade e era consciente - mas não era. No fundo, tinha algum ideal. Vê-se bem, então, que ás vezes a gente tortura, sem pensar que tortura, dizendo que não, dizendo que é preciso? Mas tortura, machuca, fere, deixa marca. E no depois é que percebe, só se alguém batalha pra abrir o olho nosso. Eu digo isso do fundo. O que é meu, o que é teu, o que a gente pode? Ah meu Deus, que dor. É como andar todo santo dia numa corda fina, suspensa entre uma cordilheira e outra - o abismo sempre ali presente, a todo minuto, a todo segundo. E uma voz grita de todos os cantos: estou aqui pra te ajudar, estou aqui para o que precisar, eu nunca vou te julgar, você pode contar comigo. Mas você não vê a pessoa. Você não vê de que modo ela poderá te socorrer. Você não sente (pior) o medo ir embora. Algo muito forte te diz que a voz mente - sem nem saber que mente.
O que é que se faz com isso?

"É chegada a hora, a idade de enteder, que se ficar lá fora o bicho vai comer. Agora vou lá fora, outra jistória vou viver, e vou ficar lá fora, vou pagar pra ver. Quem vai pagar pra ver, quem vai? Quem vai correr, quem vai ficar?"

terça-feira, 14 de setembro de 2010

As lágrimas que tu chora

Que bondade que nada, isso tudo vai emboa em alguns segundos. Eu sei disso. O amor de vocês é tão enraizado quanto a folha seca que cai da árvore no outono.
Me desculpe, estou rude. Mas não por caso de gosto meu, mas porque vejo as coisas meio assim, entre nós. A impressão que dá é que no mais leve ressoar de invasão, o diamente é esfarelado pela pressão dos dedos. Como podia, então, diamante ser? Isso que bate sem parar na minha cabeça.
Me desculpe, estou rouca, não vou falar muito. No fim das contas, tenho me esquecido de considerar tudo uma parte de mim - por pior horrível terrível que seja. Então, estou na fase dos testes. E esse é mais um. (Que pecado dizer isso). Mas mesmo assim, essa violência sutil a que me submetem - e é violência sim, mesmo que não percebam ou não saibam - ainda bate aqui dentro e entra como uma agulhinha incandescente, que vai queimando e ao mesmo tempo doendo. Dizer que não posso fazer parte, por mais que eu já desconfiasse, fez crescer um rio perto dos meus olhos. "Não pode". Para tudo há restrições. Para tudo há elites. Para tudo há perigos. Para tudo há distanciamento.
Cada vez ais? Cada vez maiores? Cada vez mais feios? Desculpe, mas ainda não dá pra sentir com gosto tudo isso. Nem com, pelo menos, neutralidade.

Podia estar passando uma música daquelas em que é uma flauta tocando, e só uma flauta, mais nada, não é? Parece bem perto do silêncio. Mas para mim é isso que está tocando agora. Sabe que depois de correr muito, eu fiquei cansada. E ás vezes eu gosto muito de estar cansada. Posso ficar parada, frágil, sabendo que não há necessidade de me proteger - ninguém vai me atacar, verão que só quero dormir, deixarão, portanto, e poderão até, quem sabe, sentir algum carinho. As pessoas gostam das criaturas mansas, e a gente é mansa quando tá imóvel. Toda aceita, sem pretensão de rir, de chorar, de mergulhar. Quando a gente tá só ali, bem parada. Bem sem vontade de sofrer também. As pessoas gostam. Também porque assim não precisam sentir medo.
Mas sabe que tem me machucado ficar muito próxima. É, dizem que a gente nunca quer ver a parte ruim do outro, mas ás vezes ver essa parte, e assim, tão claramente, dói um tanto mais do que precisava doer. Bem estampado nos olhos. Transparente. Berrante. É, é uma coisa que berra, e enxe os meus ouvidos. E enxeu e eu vi e tá como quando eu cai e machuquei muito os joelhos.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Que hostilidade besta?

É o sonho. Assim, e ao mesmo tempo, o jogo. Digo, eu me digo "Por que diaxo não posso tentar encantar o menino no tempo que bem entendo? Simplesmente porque talvez ele não entenda?", e então eu penso, mas e se o rapaz estiver fora do apego - das idéias rudes de desencanto? Então, se sim, poderia eu, de repente, ir dizendo sem sufoco os meus feitos do coração. Mas juro, já não acredito que tem muita gente fora do ciclo da jogada, sabe bem como? É triste, é sim... daí minha cabeça me diz: entre na roda e aprenda como é que se joga. Mas isso dói, dói no peito que nem te contar posso. A hositilidade me quebra. E o problema é que não to mais de cara aberta querendo pagar pra ver. Teve uns e outros que murcharam minha capacidade de fazer isso. Mas no fim, to recuperando. O pessoal que faz circo vai me ajudando a ver que pra mim, crescer é se desarmar. Falando bem de leve, bem suave.