quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nothing is gonna change my world

- Papai, qual que é mais forte, quando arde ou quando dói? Porque a coceira, a cócega, quando arde, quando dói, é tudo dor, mas com intensidades diferentes, não é? Mas qual que é mais forte, quando arde ou quando dói?
- Ah, eu não me lembro, mas acho que é quando dói.
- É, é quando dói né? Como quando tem um hematoma, não é? Porque daí as veias estão todas estouradas...
- É, as veias estão todas estouradas, tá tudo traumatizado...

Num carro rápido, rápido como o vento, o motorista me diz que nada vai acontecer, que não vai me machucar, pede pra eu confiar, diz docemente, e o carro vai rápido, correndo, correndo, correndo. Ele vai correndo, mas eu não pedi pra sair. Ele sabe que talvez não possa cumprir, e eu sei que talvez acabe me ferindo. Mas acreditamos, eu e ele, nisso. Que nada vai acontecer. Nada de ruim. Mas no fim das contas, alguma coisa acontece. A gente bate, numa árvore, em alguma coisa. Não deu pra ver. É que eu já estou a essas horas sem poder perceber nada. Antes senti medo, senti que algo estava errado, senti, senti... mas nunca consigo sair do carro. Alguma coisa estava errada e eu vi. Agora já bateu. Primeiro ardeu tudo, o pânico era quente subindo na cabeça, havia um desespero enorme, queria evitar como pudesse. Mas não estava no controle de carro nenhum - estava sentada ao lado. Indo. Agora, já está doendo. Não tem volta. Já batemos. Já batemos. Não tem volta. Ao menos não há ansiedade - já aconteceu. Já batemos. Mas batemos do meu lado. Eu é que me feri. E o motorista eu não sei pra onde foi...
Tá roxo, tá estourado, mas está tudo bem. Só preciso ficar quieta, está tudo bem. Só não me peça para fazer a mesma viagem de novo. Só não me peça para viver aquilo de novo. Só não me peça para enxergar que a promessa foi quebrada. Não, por favor. Não me peça para ver aquela beleza ser disperdiçada. Por favor.

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