segunda-feira, 22 de março de 2010

limpida. (que palavra bonita)

- Moço, muito boa tarde.
(levanta o chapeu, o seu moço)
-Moço, por caso es o alfaiate masgico-descolador-feitor-solucionador de que ouvi falar? E que eu ando ha muito procurando alguem que soubesse fazer um serviço parecido com o seu, mas pensei que impossivel de achar fosse, dediquei um bocado de tempo a aprender a arte por mim mesma, eu por mim mesma, fazendo um monte de bocado de coisa errada mesmo, ate aprender como se faz... (ele interrompe):
- Sou eu sim.
- Quanto fica?
- O que quer exatamente? Tudo depende... se vai querer que eu so tire...
- Tudo. Tudo, moço. Tire por favor tudo.
- Voce quer ficar sem nada?
- Moço! Rasga tudo! Corta, descola, descola, descola essa nhaca de miiiim!
- E perigoso moça, ficar sem nada... querer amputar toda a roupa. As vezes vêm uns malucos com essa ideia, e o fazem, e as vezes se arrependem, outras vezes nao, mas bem raras vezes, pra ser moço sincero eu.
(uma duvida lhe surge...)
- AH, minha cabeça e tao pequena...nao sei como explicar o que imagino moço...
- Assim nao poderei ajudar...
- Moço! Olha pra mim! Eu to chorando! Eu to pedindo ajuda! Eu nao sei, eu nao sei! Por favor, nao me deixe so nisso...
- Moça... o que foi?
- Voce tem coração, então?
- Hm... talvez?
- Moço, qual a sua opinião? O que seria melhor?
- Olha, senhorita, vou lhe dizer uma coisa. Todo mundo na rua - olha pra rua..
(ela olha)
-Sim?
-Ta vendo? Todo mundo ta cheio de roupa amontoada, uns mais, uns menos, uns com muuuita roupa, tanto, mas tanto, ate as tampas, que nao conseguem nem mais enxergar a luza do sol. A roupagem tapou-lhe as visoes, empreteceu tudo, tudo. Mas eles se protegem. Assim sao mais fortes, entende? Nao e muito facil causa-lhes mal. Soque-os com todas as palavras que quiser, com todas as tentativas de abrir uma frestinha que seja para que possam ver... e nao vai adiantar. O ego ta forte, gordinho que so, varias e varias camadas...so podem (so podem!) ver a propria cabeça. Mais nada... e voce jamais conseguira rasgar, voce, a roupa deles, entende? So quando eles quiserem...por alguma mutação estranha da natureza que dai eu ja não conheço...
- Mas moço! Muita gente me chama de incompreensiva! Olha, eu to cega, pode ver! Eu grito a quatro cantos "sejam olhos-abertos" e eu mesma tampo os meus! Com a roupa suja feia negra fedorenta que gruda. Ai, e as vezes eu nao percebo! Mas agora, agora eu to chorando, porque a roupa ta pesando taaanto em mim, ta grudando, feito parasita! Mas e meu! Eu sou meu proprio parasita? Eu sou o proprio monstro?
- Moça...
- Moço! Por favor, eu to pedindo ajuda... Não ve? Estou bem aqui, dentro do meu proprio mar sem redias...e eu ja nao sei onde e norte e onde e sul. Me ajuda a achar ate que ponto eu preciso soltar o peso de mim, pra poder nadar mais livremente, mas sem soltar tudo, a ponto de sumir, e, entao, ja nao existir mais? Voce acha que pode me ajudar?
- EU ja sei.
- Ja?
- Vamos trabalhar juntos. Voce quer se tornar limpida...

Nenhum comentário:

Postar um comentário