domingo, 28 de março de 2010

sem nomes, ela implooora!

Que a menina quis ir para um lugar onde ainda não tivessem dado nomes, nem tentado dominar classificando. Sabe o que pensava? Hm, na verdade, o que sentia? Um reboliço no estômago, que por aqueles tempos, mais e mais lhe causava náuseas, toda vez que ouvia algo muito concentrado, prezinho que só em um conceito, coisa assim. Tinha no pensamento que aquilo devia dar-lhe angústia empedrada na garganta porque ela mesma fazia isso com ela mesma dentro dela mesma e vindo dela mesma, ela mesma bebendo a coisa ruim. Ah, doía que sim. Sabia por muito bem que fazia essa coisa com tudo e todos: enjaulava tudo tudo tudo em potinhos de ah-você-é-bom-portanto-é-médico ou ah-você-é-ruim-porque-é-egoísta ou ah-a-vida-boa-é-ser-hippie-como-ele e etc etc etc. Tudo entipado. Vício dos brabos. Que tristeza sentia toda vez que ia lá e começava a perceber que fazia o inferno toda e mais uma vez de novo. Parecia por muito que comprava uma droga e usava e depois passava mal como algo que apanha e vomitava tudo tudo porque nosso corpo não quer ficar com coisa podre dentro...e depois, lá tão logo, era como se seus passos lhe guiassem sempre pro mesmo caminho, sempre pra mesma estante vermelha que indidava "produtos perigosos" e ela levantava as mãos também obcecadas e pegava um dos produtos (uma das drogas) chegava em casa, abria o frasco e mesmo chorando, soluçando, rebatendo, bebia tudo, sem deixar gota pra ninguém mais. E aí ficava sabe como? Como o efeito queria: como que presa numa bolha opaquinha, cor de cinza empretecido emputecido emburrecido, onde o sol entra poquinho, onde a comida era café marron e arroz branco e nada mais e lá ficava a formular palavras e depois frases e depois livros sozinha, aborrecida vendo fora um mundo por vezes feioso demais e por vezes bonito que demais e sempre isso tudo junto, e ela lá na verdade dela presa sozinha sem poder t-o-c-a-r nada lá de fora. Nem sabia como. Aliás, essa coisa da bolha vinha mesmo da droga ou da natureza da sua cabeça de nacença por assim nascida mesmo? Ai, como fazer pra saber e como daí pra curar? E ajuda? Tinha tinha como alguém notar a real dimensão da coisa? Porque de fora tudo parece tão escondido - a bolha era invisível pra quem estava fora. Eca, eca, que enjôo.
E dum baque fez-se em sua visão uma possível saída. Choque com chute trotando em frente pra afrontar a parede própria e arrancar ao menos fresta onde coubesse pra passar pra fora e fugir. Num murro forte iria tão logo explodir a parede que desde sempre fora de cimento e aço, porque ela foi arranjando força - fúria - ao decorrer da vida e já agora tinha um pouco de vida e sabia que em si não era mais úmida e pesada - e portanto de difícil locomoção - a capacidade de se deixar dominar. O bicho ficava cada vez mais desobediente e aumentava a brutalidade latente pronta pra arrebentar quem estivesse bem afim de impor. Chega de curvar-se. Chega chega. Chega de curvar-se ao vício. Chega de curvar-se a necessidade de podridão. Chega de sujeira. Chega e só. Agora ela ia pra fora, onde não houvesse nomes e sim flores e não medos mas amores e não pulos de dor mas de alegria. Como descobrir uma terra nova - descobriria: as coisas boas que sim seriam eternas sim. E mais que tudo acharia uma coisa nova que nunca havia achado antes: a li-ber-da-de. Pra ser livre do ruim do mundo e do pior ruim de tudo: o que vinha dela mesma e comia seu saco vitelino. Acharia seu mal e morderia até triturar e depois cuspiria e queimaria e nunca mais deixaria nascer.

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