terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ratificando Então a Nossa Alegria sem Nome

"Eu não cheguei ao âmago de nada. Não fui agarrando as coisas, nem com as mãos, nem com os pés, nem de jeito nenhum. Eu só fiquei, por perto, assim. E não dá pra dizer como também. Foi só...de algum jeito. Ah, as coisas foram se arremessando, depois se fixando, depor melhorando, depois ficando delicadas, e depois bem brutas, e depois amargas, e depois vagas, e depois mais vagas, e depois mais vagas, vagas...vagarosas, distantes...perdidas. Até que se perderam. Por aí, talvez. E talvez não de vez, sabe? Porque alguém disse 'tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas' - sublinhando o eternamente. Então talvez esteja alguma coisa ainda vagando no ar - por mais que a perda tenha acontecido de qualquer modo, e aberto algumas vagas -, sim, talvez alguma coisa ainda esteja voando. Qualquer coisa, é só ela pousar em algum lugar, quando quiser, ou quando puder, ou quando simplesmente...pousar. Como a borboleta amarela que eu vi voando dentro do supermercado - sim, dentro do supermercado! - naquele ambiente cheio de plásticos, cores, potes, marcas, preços, valores, incômodos, durezas, confortos, delícias, produtos - lá quis entrar a borboleta amarela leve e quis pousar em cima de uma prateleira qualquer, e quis deixar que eu visse isso, e quis voar de novo depois. Então foi assim, mas como que ao contrário, meio a meio e ao contrário de novo: quis ver, quis se aproximar, o Mundo de várias coisas rudes e também fortes e também afrontadoras, num Mundo mais sutil e mais fraco e mais forte também e mais preocupado com o sorriso do que com o beijo - ou não, ou, também. E daí o Mundo rude mostrou que voava de vez em quando, e podia mostrar as asinhas amarelas de vez em quando, mesmo que fosse num lugar desconhecido - no caso, no Mundo sutil que era menos afrontador do que os Mundos que o Mundo rude costumava frequentar. E então os olhos do Mundo sutil se encantaram com o modo com que as asas amarelas do Mundo rude eram bonitas, tão sem querer e tão fáceis...tão facilmente bonitas. Mas, por causa do vento, ou por causa dos dedos do Mundo sutil que quiseram tocar nas asinhas, o Mundo rude resolveu sair de perto - como que sair da prateleira e ir para outra prateleira, voltar, digamos, para onde estava vivendo, ao invés de voltar para onde gostaria de viver realmente: lá fora, perto do mar. E assim, o Mundo sutil ficou um pouco triste, pois sabia que não poderia mais ficar olhando pro amarelo bonito que vira por alguns segundos, e então, resolveu só entender, só aceitar. Afinal, acontecia que o Mundo rude era um bicho perdido, vivendo dentro de um supermercado superlotado de inflações, e de falsificações, e de embalagens. O que poderia fazer? Talvez um dia o Mundo rude sairá do supermercado, ou talvez não, ou talvez só de vez em quando. Mas, enquanto isso, o Mundo sutil vai ficar lembrando de uns sorrisos e outros - porque a beleza foi bela, e foi clara, mas não foi tão forte e tão dolorida como aquela luz violenta que a gente deu o nome de...amor. "

Não é claro, não é escuro. De algum jeito, dá pra ver. E dá pra entender. É só ficar absorvendo a penumbra do jeito que ela vier. Entende?

Nenhum comentário:

Postar um comentário