segunda-feira, 6 de junho de 2011

Due Tremendi

1."Agora te tenho assim: escuro - de modo que não sabe de quem estou falando, ou presume, mas eu precisava que não presumisse...não presumisse. Quando andava eu percebia algo de desalinhado, e sabia de onde vinha a dureza quando falava de amor, de estar junto, de abrigar...não sei bem. O cheiro que me envolve agora, o jeito que me envolve agora, era tudo algo bem mais sincero do que já havia sido. Não, sem soluços, sem urticárias no estômago, talvez só um pouco de música. Quem sabe? Quem sabe um dia eu consiga então adentrar, sendo eu vento e você oceano, por mais díspares que sejam nossas posições. Mas de qualquer coisa que eu possa dizer, dessa vez absorvi mais beleza do que pensava, justamente por não pretender, eu acho... Só escuto a música, sua continuidade, sua continuidade. Não importa o que, só é preciso avançar para viver, e não foi isso o que resolveu fazer um dia em tua vida quando entrar na sala, na cozinha, no quarto, no banheiro, apertava-te as veias e também o coração, de tanto vazio, de tanta falta...falta...falta.... fal t a. Falta. Podia me dizer que sim, com toda voz que tem, ou com toda pouca voz que tem(os) para falar dessas coisas mais enroladas, mas...é mais difícil, logo para, percebi. Sonhei com uma escada, em caracóis, eu subia e descia, escondida, pra fazer alguma coisa. Era você? Era você? Sem respostas. Mais uma vez. Mas já estive tantas vezes nesse lugar silencioso que não me abandono mais estando em sua ausência.... acho que me perdi do continente, acho que estou vagando agora, acho que não estou te vigiando agora, acho que não posso mais te enxergar... acho que nadei demais, acho que me afoguei demais, acho que fugi demais, acho que estou longe demais. E logo agora ouço que está a gritar-me. Não: a chamar-me, calmamente, calmamente, com cuidado, o cuidado que nunca teve, pedindo-me para virar. Não, não vou me esquecer do bicho preguiça, tudo bem, essas coisas eu chamo o tempo todo para que elas pelo menos não nadem tanto quanto eu. De repente eu não espero. De repente, eu não sei mesmo."





2. Não queria misturar mas mesmo assim...


Não sou um princípio, nem nada assim. Ás vezes me acolho em asas e ás vezes, ás vezes, o que me resta? Pedidos, pedidos tão carregados. Que mal fiz em pedir e não percebi... desculpe. Quando me canso agora, quando fica frio demais, ah, então é melhor o silêncio. Não sei mais dizer nada explicitamente. Não sei mais ficar placidamente cheia. Peço que entenda a distância. Peço que não se aproxime tanto assim. Peço que mude de olhar. Peço que não sugue nada porque é horrível sugar - meus dentes, já tão corroídos, dizem isso pra você, se não acreditar em mim. Mesmo que tenha tanta coisa boa aí, por favor, guarde um pouco, por favor. Ás vezes é lava demais, quente demais, e arde. Não queria dizer isso. Teoricamente, preferia nunca deixar espaços....mas eles são tão necesários... pelo menos por um tempo. Até que haja tempo, pro tempo do tempo, deve ser.





3. Então, por que estou chorando? Ninguém pode ver, mas está todo mundo dormindo, mas estou com o aquário e as plantas e o silêncio, e suas músicas, e o meu pensamento - não, o meu sentimento - de ter algo não palpável querendo sair e nem imagino de que jeito posso. Quando perto, não sei. Quando longe, parece mais perto. Quando aqui, quando? Quando aqui? Um dia, um momento? Talvez eu só pudesse dançar. Não acredito mais que existam explicações. Cada vez mais prefiro o silêncio, cada vez mais prefiro a mente quieta, cada vez mais prefiro algum desenho torto, sem linhas retas, sem precisão, sem certeiriedade, sem técnica, sem conjugação, só um movimento um movimento um movimento...antes que as lágrimas saiam. Porque vocês nunca dizem Sim. Quando pôde eu hesitei - mas era em vão como sempre. Como-sempre-em-vão já não me leva pra frente, eu paro, eu reflito, eu prefiro outro jeito de preparar a história, de me achar.


(...) eu me perco nesse universo de vocês. Não sou tanta coisa assim. Cheia de graça, de saberes, de entenderes? Eu nasci, e ponto. E isso nem é tão suficiente assim. Logo digo, aqueles passarinhos sem jeito que não sabem voar, só querem, só querem, sou eu assim. Minha vó gosta de mim, e ela é um amor. Lê livros. Diz sempre que quem dá a alegria de levar para ela coisas bem bonitas para ela ver de filme sou eu. E ela fala poeticamente, com calma. E isso é importante pra mim - não pra vocês. Se me contassem da vó de vocês, seria importante pra mim também, mas eu falar da minha, assim, pra vocês, sei que não é. A gente virou muito mais rude do que precisava, sim? Pra sair ás ruas e tomar cerveja, e frequentar qualquer lugar, a gente tem que pôr carapaça e fingir que é desatento, ou...muito atento. Ligado no que realmente importa....que é: ser bom. O melhor. Mas sabe? Não quero mais entrar pela porta da frente, se for preciso vou sozinha mesmo, eu e minhas mãos. Talvez um piano, um piano podia me ajudar... talvez um amigo, que não ria tanto assim, que não se importe tanto assim com a melhoria dos talentos, com a clivagem dos nossos quartzos pretenciosos, tá bem? E eu querendo chorar, querendo chorar. Outro fala comigo agora e não quero me soltar da música, não quero mais. Não sei, a calma me pegou. O que eu faço, se não quero ir embora?

4. Due Tremendi apagou-se... queria que estivesse aqui mas já é tarde.

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