sexta-feira, 16 de outubro de 2009

de Sofia: não quero beber do teu café pequeno

Me dá aquela bota suja do canto da sala e finge que não demora pra poder dizer depois que se atrasou: será menos dolorido. É que você pensa que eu não vi e não ouvi o que vocês disseram agora pouco, não é? É muita falta de vergonha, se quer saber; dizer que o meu bicho é mais precioso e que eu valho mais que mera e que por isso preciso de um alto do mesmo tamenho que eu - eu quase gritei naquela hora! Se tá com medo então arranje um jeito de se limpar, pra vir depois e poder entrar, ao invés de ficar inventando desculpas esfarrapadas - e sendo esfarrapado - todo tempo. Sabe por que? Porque eu espero. Porque eu já estou esperando você criar coragem, mas você tá demorando muito e tá fazendo eu ficar com raiva todo dia. E a minha raiva cresce rápido, que é de meter medo na gente, pode confiar. Sabe o que eu tava pensando? Que os meninos têm medo de chegar perto porque o que eles querem mesmo, o que eles só querem, é colo. Quer saber? São mais tolos que todo mundo, estão tentando achar chão bem duro pra pisar, mas sabe o que não é bem assim nisso? O chão, moço. O chão não tem, não existe, não, em lugar nenhum. Por isso é que parece mole: porque você tá pisando em água o tempo todo - sabia dessa? É, é sim. O que salva é dar a mão, e é o que você e seus amigos têm medo: de dar a mão. Mas os meninos são azuis. E eu não sei ficar longe de gente azul, nem um tiquinho. As pessoas vermelhas, rosas, amarelas, não são do meu gosto, sabe? Ficam piscando o tempo todo e chamando e falando e correndo e estando e isso me entope a cabeça até as tampas, mas eu tô tentando gostar, juro que tô. Igual quando Olívia tentava não ter nojo do sapo e eu não tinha, é assim que tô fazendo, pra tentar melhorar. O pior é uma coisa, sabe o que? Que ás vezes a gente pensa que tá forte mas bate um vento e a gente cai até o fundo do mar e engole água - e de vez em quando fica com o pé preso em alguma plantinha. O que me faz pensar que existe diferença, é que os humanos têm livre arbítrio e são obrigados a escolher um caminho - ironia, não? - e daí você escolhe ou um caminho mais calmo pra si mesmo e pro resto, ou resolve ficar batendo a cabeça a vida inteira nos muros que são feitos de pedra e que não têm porta nenhuma. Acho que tomei o primeiro, e tô tentando me manter na linha - vê se consgue não me apedrejar muito por isso que resolvi fazer, tá? É, você e os seus amigos estão querendo me matar só porque eu quis ficar a cá, na terra com os quietos e quem é assim, nesse Mundo, parece não merecer aconchego, e é com isso aí que vocês estão me esfaquiando. Só quem ateia fogo é que merece espaço? AH, mas lembrei agora: talvez eu mesma esteja errada, e lendo uma coisa que não é. E também dando a mesma coisa que tô recebendo! Vou tentar me concertar pra ver se funciona.

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