sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Pior do que todos os piores daquela face

Broto de lágrima ás vezes aparecia
Em seu rosto melindrado
E Sofia crescia.
Mas ah, que dor era essa, de ter que se rasgar em si mesma, pra poder virar um algo mais rijo, mais alto, quem sabe - se esse aquém, de repente, permitisse. Vasta sim, até demais. Dura já não, nunca fora, que bom se entendesse.

Não tem água na boca hoje, nem ladainha falada - se bem que de manhã fora bonito ver a deixa. Desigual e raro, é o que podia-se dizer daquilo, daquele mar de banditismo escapado, das mãos libertas dele que ensaiavam - e Sofia via com os próprios olhos que muito acostumados a ver além da conta estavam. (Caretas próximas eram um sinal, estava começando a montar o desenho, em papel que fica grudado.)
E disse: "até mais".

Depois viria a parte agoniante. Ver os rostos inexpressivos doía bastante, mais nela, talvez, do que no resto; a ausência gritava tão alto que a deixava surda. Engraçado isso: como o que deixa espaço vago (como quem sabe, o silêncio), na verdade, pode berrar tão terivelmente no peito de um ser? Ah, sim, a criança traduz tudo: tem medo do escuro.

E mais depois, viria a raiva. Não a raiva feroz, mas aquela que fica sussurrando, pra deixar desconforto. Pois que Sofia assim se encontrava mais á noite: sem se achar. Procurara em algumas poucas coisas, nas letras dos senhores que deviam ter a mesma história, e nas músicas emanadas da vitrola, e no pote de chocolates - e no pão mofado. Mas não estava lá. Que incômodo era não sentir a própria carne, que fraco deixar que um outro ser pudesse tão devastadoramente lhe invadir - e ela sentia então cada vez um pouco mais de raiva, e também, uma aceitação chula que a denunciava como pobre.
Que chatisse era isso: ter de pedir permissão ás pessoas por amá-las com o fundo do que chama-se alma. Era de zangar-se profundamente, até porque todo mundo decidira ser propriedade, fechar as portas, trancar as janelas e cobrar pedágio; todo mundo decidira dizer muito mais "não".
Gostava dos ultrapassadores, será que podia dizer assim? De todos aqueles desenvergonhados, vagabundos, safados. De todos esses que concretizavam as coisas - pois que começava a perceber que cometer atos viciava! Agora não bastava mais só devanear, era preciso, tão preciso, tocar. Ah, os dedos coçavam mas Sofia ainda não alcançara aquele estágio meio Cazuza, bosta. É, meio Cazuza, era ela, então? Ou como naqueles filmes franceses, de jovens nus na mesma banheira. Podia ser, muito provavelmente era... e que orgulho sentia. Quem sabe, era Sofia, pior do que todos os piores daquela face. (E ria-se de doer).

Importante:
"A ilusão da segurança."

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